Resenha na rede

Uma estranha criatura vivia
No opaco planeta Caiqueria.
Seu trabalho era assim:
Regar frases no jardim.

Frases curtinhas, assanhadas,
Frases tristes, gorduchas, zangadas,
Frases faceiras, frases ligeiras,
Frases magras, breves, frases arteiras.

Um conto sobre a força da palavra, uma brincadeira com a inesgotável riqueza da linguagem, uma história sobre... histórias: “Planeta Caiqueria” (Editora Projeto, R$ 25) é um livro infantil com cara, jeito e coração daquela boa literatura universal, para todas as idades e estilos. É o tipo de livro que dá gosto de ler em voz alta, de dividir com todo mundo de quem se gosta.

O personagem principal chama-se, singelamente, Criatura. Uma criatura que, para driblar a falta de memória, “prendia tudo em forma de história”. E todo esse material que alimenta a vida de qualquer um acabava guardado em caixas – pilhas e pilhas de caixas repletas de pequenos e grandes acontecimentos, emoções, movimento. Um tesouro.

Como acontece com qualquer um, em um determinado momento, no entanto, a ordem vira desordem, o imprevisto atropela o confortavelmente estabelecido e as caixas são abertas. E é aí que o texto ganha ainda mais força. Espalhadas pelo Universo, as histórias finalmente voltam à vida.

O autor, Hermes Bernardi Jr., gaúcho de São José do Ouro, faz um belíssimo tributo aos contadores de história – aproveitando a própria experiência. A parceria com o pernambucano André Neves é um acontecimento: as ilustrações são tão encantadoras quanto o texto. Não se prenda àquelas típicas divisões estanques “isso é adulto, aquilo é infantil”: “Planeta Caiqueria é infantil, e adulto, e brincalhão, e comovente, e...

Por Lourenço Flores
Colunista WebDaqui - Brasília