Um desabafo. Tomara ecoe!
Peço sua generosa atenção neste momento. E paciência. Em tempos de links que se abrem e se fecham num segundo, sei que este pedido pode parecer revoltante, mas insisto:perca alguns minutos nesta leitura. Obrigado.
Há uma questão que anda ocupando minhas ideias e tirando meu sono. Se você acredita no artista não deveria ser de suma importância propiciar a este um modo de que sobreviva de sua Arte? Explico: desde que saí de casa - anos 80 - escolhi viver da minha arte enquanto meu pai insistia que eu fosse eletrotécnico. Estava eu cursando o ensino médio na ETFPel para atender ao seu sonho quando descobri o teatro, e dentro dele a literatura. Nestas coxias fiz uma escolha que passeia entre os dois e nada tem a ver com transistores. Foquei na literatura para crianças como forma principal da minha expressão. Fiz esta escolha e decidi que viveria disto. Comecei a publicar em 1998, com financiamento do Fumproarte - fundo este ao qual sou eternamente grato. O primeiro título tem sido comercializado e reeditado até hoje. Foi a partir deste estímulo que assegurei meu lugar na LIJ brasileira. Mas em quatorze anos de trabalho nunca vivi situação semelhante a qual me encontro, com pagamentos de cachês atrasados a mais de três meses e sem dinheiro sequer para pagar a comida do dia-a-dia.
Tenho vivido de favores dos comerciantes do bairro onde moro. Amigos que fiz ao longo dos onze anos em que aqui resido. Tal situação não se restringe a mim. Muitos autores da palavra e da imagem estão vivendo esta situação. Muitos não o dizem. Nossa sociedade foi preparada para excluir aquele a quem declara-se perdedor. Eu não o sou. Meus livros tem sido comprados por governos de todos os cantos do Brasil. Meus livros tem sido referência internacional, haja visto post anterior, mas estou esperando que as prefeituras e órgão promotores de eventos literários voltem de férias, aguardem a verba dos IPTUs que aguardam no caixa único, para que aí, então, eu possa ver a cor do dinheiro pelo qual lutei com dignidade e respeito, cumprindo com tudo a que me foi pedido. As dívidas de pessoas físicas, claro, as que menos ameaçam a vida jurídica destes órgãos, sempre serão as últimas a serem sanadas. Somos fracos. Uma vergonha! Nós, autores, sempre cumprimos com nossos compromissos de forma profissional e bastante satisfatória. Fazemos malabarismos em nossas agendas, saimos de nosso trabalho - escrever - para atender aos eventos e nos mantermos à vista do leitor. Caso contrário, somos esquecidos.
O Brasil, o Rio Grande do Sul, são territórios de esquecimento. Prefeituras se esquecem. Prefeituras querem novidades. Prefeituras não prestam atenção em trajetórias e em quem leva a sério o seu trabalho. Prefeituras querem autor-show. Querem quem não cobra cachê, ou quem vai aos eventos por cinquenta, oitenta livros vendidos. E a literatura? Ah, esta não é importante desde que pareçam incentivá-la, que se dane a cadeia criativa! Que recebam o seu pró-labore quando houver possibilidade. Que esperem! Temos sido os últimos a receber nossos pró-labores, ínfimos, pra dizer a verdade. Nós, que produzimos literatura, somos os últimos a receber nossos valores que são nossos por direito e que são boa parte do que nos garante nossa subsistência. Em país que lê pouco e que constrói a imagem de que lê mais, os autores são a última instância a desfrutar dos lucros.
Desculpem-me usar este mural como muro das lamentações, mas não acredito que prefeituras e órgãos promotores de eventos literários estejam, de fato, precocupados com a qualificação e formação do leitor. Caso estivessem, tratariam de pagar de imediato quem escolheu viver da arte da escrita e da ilustração, em vez de pagar primeiro os toldos que encobrem a boa literatura. Para tudo tem uma explicação dita plausível, a que temos de ouvir calados para não parecermos chorões: precisa passar no setor tal, no setor esse, no setor aquele e só então poderemos liberar os pagamentos. Ocorre que os setores estes, certamente estão preparando as fantasias de Carnaval e nós vamos ficar com nossas lantejoulas sem brilho.
Realizamos projeto de capacitação de jovens mediadores. Estes, contavam com o pequeno cachê para levar para suas casas e colocar algo mais na cesta básica da família de poucos recursos. Estavam felizes por não cederem às drogas oferecidas na esquina para trilhar outras possibilidades no mundo da leitura. Sequer estes valores nos foram até então repassados para que possamos pagar jovens que se dedicaram a mediar leitura em comunidades de Porto Alegre. Que esperança estamos plantando no coração destes jovens? De que seus sonhos, sim, podem se realizar? De que a literatura vale a pena? Então, além de não nos incentivarem a sermos apenas autores, e podermos acreditar nesta possibilidade de vida, em Arte, também não incentivam que incentivemos a outros, ou que nos sintamos gratos por aproximar jovens leitores da possibilidade do sonho, do devaneio que o livro provoca. Eu não sou médico que escreve. Não sou professor que escreve. Não sou jornalista que escreve. Não sou aposentado, e escrevo nas horas vagas. Escrevo todos os dias, como aprendi com Luiz Antonio Assis Brasil.
Assim como eu, sei de muitos que escrevem todos os dias de segunda a sexta-feira, no mínimo 4 horas por dia. Este é nosso meu ofício. Foi nossa escolha e, por termos insisitido e relaizado um bom trabalho, temos tido reconhecimento em território nacional. Não queremos nos arrepender de tê-la feito. Somos escritores. E ponto. Queremos viver disto. Fizemos esta escolha. Temos orgulho de tê-la feito, bem como ter conseguido nos manter disto, além de trazer junto outros que também hoje se integraram ao mercado editorial. O que está faltando é mais respeito com nosso ofício. Falta-nos que muitos promotores de eventos literários e prefeituras olhem com mais dignidade ao trabalho que realizamos para tentar melhorar o mundo em que vivemos. Caso contrário, montar tendas e toldos coloridos onde se possa encher de livros embaixo não passará de balela. É muito bonito ter alguns de nós como cereja do bolo - alguns até dançam e cantam e pulam e se fantasiam para cumprir com a necessidade destes eventos - prefiro que os bailarinos e músicos profissionais o façam, pois o fazem lindamente o que não cabe a mim fazer, pois minha escolha foi outra. Minha escolha não foi dançar e cantar, não desenvolvi tal competência. Preferi desenvolver outra: escrever e ilustrar para crianças, e por vezes, contar histórias e dirigir espetáculos infantis.
Há uma questão que anda ocupando minhas ideias e tirando meu sono. Se você acredita no artista não deveria ser de suma importância propiciar a este um modo de que sobreviva de sua Arte? Explico: desde que saí de casa - anos 80 - escolhi viver da minha arte enquanto meu pai insistia que eu fosse eletrotécnico. Estava eu cursando o ensino médio na ETFPel para atender ao seu sonho quando descobri o teatro, e dentro dele a literatura. Nestas coxias fiz uma escolha que passeia entre os dois e nada tem a ver com transistores. Foquei na literatura para crianças como forma principal da minha expressão. Fiz esta escolha e decidi que viveria disto. Comecei a publicar em 1998, com financiamento do Fumproarte - fundo este ao qual sou eternamente grato. O primeiro título tem sido comercializado e reeditado até hoje. Foi a partir deste estímulo que assegurei meu lugar na LIJ brasileira. Mas em quatorze anos de trabalho nunca vivi situação semelhante a qual me encontro, com pagamentos de cachês atrasados a mais de três meses e sem dinheiro sequer para pagar a comida do dia-a-dia.
Tenho vivido de favores dos comerciantes do bairro onde moro. Amigos que fiz ao longo dos onze anos em que aqui resido. Tal situação não se restringe a mim. Muitos autores da palavra e da imagem estão vivendo esta situação. Muitos não o dizem. Nossa sociedade foi preparada para excluir aquele a quem declara-se perdedor. Eu não o sou. Meus livros tem sido comprados por governos de todos os cantos do Brasil. Meus livros tem sido referência internacional, haja visto post anterior, mas estou esperando que as prefeituras e órgão promotores de eventos literários voltem de férias, aguardem a verba dos IPTUs que aguardam no caixa único, para que aí, então, eu possa ver a cor do dinheiro pelo qual lutei com dignidade e respeito, cumprindo com tudo a que me foi pedido. As dívidas de pessoas físicas, claro, as que menos ameaçam a vida jurídica destes órgãos, sempre serão as últimas a serem sanadas. Somos fracos. Uma vergonha! Nós, autores, sempre cumprimos com nossos compromissos de forma profissional e bastante satisfatória. Fazemos malabarismos em nossas agendas, saimos de nosso trabalho - escrever - para atender aos eventos e nos mantermos à vista do leitor. Caso contrário, somos esquecidos.
O Brasil, o Rio Grande do Sul, são territórios de esquecimento. Prefeituras se esquecem. Prefeituras querem novidades. Prefeituras não prestam atenção em trajetórias e em quem leva a sério o seu trabalho. Prefeituras querem autor-show. Querem quem não cobra cachê, ou quem vai aos eventos por cinquenta, oitenta livros vendidos. E a literatura? Ah, esta não é importante desde que pareçam incentivá-la, que se dane a cadeia criativa! Que recebam o seu pró-labore quando houver possibilidade. Que esperem! Temos sido os últimos a receber nossos pró-labores, ínfimos, pra dizer a verdade. Nós, que produzimos literatura, somos os últimos a receber nossos valores que são nossos por direito e que são boa parte do que nos garante nossa subsistência. Em país que lê pouco e que constrói a imagem de que lê mais, os autores são a última instância a desfrutar dos lucros.
Desculpem-me usar este mural como muro das lamentações, mas não acredito que prefeituras e órgãos promotores de eventos literários estejam, de fato, precocupados com a qualificação e formação do leitor. Caso estivessem, tratariam de pagar de imediato quem escolheu viver da arte da escrita e da ilustração, em vez de pagar primeiro os toldos que encobrem a boa literatura. Para tudo tem uma explicação dita plausível, a que temos de ouvir calados para não parecermos chorões: precisa passar no setor tal, no setor esse, no setor aquele e só então poderemos liberar os pagamentos. Ocorre que os setores estes, certamente estão preparando as fantasias de Carnaval e nós vamos ficar com nossas lantejoulas sem brilho.
Realizamos projeto de capacitação de jovens mediadores. Estes, contavam com o pequeno cachê para levar para suas casas e colocar algo mais na cesta básica da família de poucos recursos. Estavam felizes por não cederem às drogas oferecidas na esquina para trilhar outras possibilidades no mundo da leitura. Sequer estes valores nos foram até então repassados para que possamos pagar jovens que se dedicaram a mediar leitura em comunidades de Porto Alegre. Que esperança estamos plantando no coração destes jovens? De que seus sonhos, sim, podem se realizar? De que a literatura vale a pena? Então, além de não nos incentivarem a sermos apenas autores, e podermos acreditar nesta possibilidade de vida, em Arte, também não incentivam que incentivemos a outros, ou que nos sintamos gratos por aproximar jovens leitores da possibilidade do sonho, do devaneio que o livro provoca. Eu não sou médico que escreve. Não sou professor que escreve. Não sou jornalista que escreve. Não sou aposentado, e escrevo nas horas vagas. Escrevo todos os dias, como aprendi com Luiz Antonio Assis Brasil.
Assim como eu, sei de muitos que escrevem todos os dias de segunda a sexta-feira, no mínimo 4 horas por dia. Este é nosso meu ofício. Foi nossa escolha e, por termos insisitido e relaizado um bom trabalho, temos tido reconhecimento em território nacional. Não queremos nos arrepender de tê-la feito. Somos escritores. E ponto. Queremos viver disto. Fizemos esta escolha. Temos orgulho de tê-la feito, bem como ter conseguido nos manter disto, além de trazer junto outros que também hoje se integraram ao mercado editorial. O que está faltando é mais respeito com nosso ofício. Falta-nos que muitos promotores de eventos literários e prefeituras olhem com mais dignidade ao trabalho que realizamos para tentar melhorar o mundo em que vivemos. Caso contrário, montar tendas e toldos coloridos onde se possa encher de livros embaixo não passará de balela. É muito bonito ter alguns de nós como cereja do bolo - alguns até dançam e cantam e pulam e se fantasiam para cumprir com a necessidade destes eventos - prefiro que os bailarinos e músicos profissionais o façam, pois o fazem lindamente o que não cabe a mim fazer, pois minha escolha foi outra. Minha escolha não foi dançar e cantar, não desenvolvi tal competência. Preferi desenvolver outra: escrever e ilustrar para crianças, e por vezes, contar histórias e dirigir espetáculos infantis.
Tenho feito meu trabalho de forma correta, embora alguns prefiram ignorar. Negando, eliminamos a concorrência. Estratégia que o capitalismo implantou em nossas convivências. A arte da guerra também surgiu para implantar atitudes militares em nosos fazeres diários. Muitos destes artistas se deixaram acometer por elas, passando a se movimentar como em trincheiras, mesmo tendo ao seu lado o melhor dos amigos, o que mais acreditava no trabalho do outro. Por que vivemos na sociedade do espetáculo, do líquido, do descartável, do BBB, da eliminação (Vivas Baumann!), reproduzimos este comportamento já incrustado em nosso cotidiano.
Sim, temos sido a cereja de muitos bolos. Há todo o tipo de estratégia para sê-lo - inclusive do bolo de não sermos pagos - mas quando chega a hora de partir o bolo, o outro, aquele docinho, ficamos com as migalhas e um pedido enorme de compreensão. Sim, por que além de cerejas temos de ter a grandeza da melancia, a de compreender a tudo e todos, e calar, afinal, somos escritores, conhecemos melhor que ninguém a natureza humana, nadamos em dinheiro, vivemos de ócio criativo e blá, blá, blá. Isto, quando somos convidados a partilhar do bolo, claro, por que em outras vezes o que nos cabe é lavar os pratos e lamber os beiços de vontade de colocar um pouco mais de respeito ao tempo que passamos debruçados sobre nossas escrivaninhas tecendo delicadamente um novo texto. Muitos autores que não vivem somente da escrita talvez não concordem comigo. Isto talvez não os afete. É natural. Sobre aquilo que não me afeta em particular eu não me pronuncio (dá-lhe Maquiavel!). Mesmo assim eu pediria apoio de replicarem esta nota, sendo generosos em vez de individualistas. Creio não ser esta situação uma especificidade minha. Tenho ciência de que atitudes como estas, de atrasos de pagamentos de cachês e de desrespeito ao papel do artista, do escritor mais especificamente, tem sido disseminadas há anos, de uma forma cruel e aniquiladora. Querem nos dar um cansaço.
Tem horas que dá vontade de morrer a continuar mendigando o que nos é de direito. E vivemos calados, temerosos de sermos excluídos das "cartas de clientes". No fundo tudo parece ser apenas, como diz uma amiga mui querida: livro e leitura no Brasil é, e tão somente, business. Nada mais. Triste constatação. Tenho resistido a pensar assim. Tenho desviado de crer que esta seja a mais pura verdade. Uns ganham e outros, os operários, não ganham nada. Nós, autores, temos sido os títeres deste espetáculo: escolhemos encantar, como os bonecos do teatro em Pinóquio, e nos deparamos com o Cospefogo a manipular nossos movimentos e nos alimentar quando bem o queira. O que me incomoda neste cenário é que sequer denotamos qualquer sinal de humanidade. Temos cumprindo com o esperado: estamos inanimados e mudos. E, se dissermos, tenho a impressão de que Cospefogo irá esticar nossas cordinhas e bradar: Fechem as cortinas!
PS: Ah! Não estou aqui para me vitimizar. Não preciso disto. Tenho corpo, voz e força nos braços para trabalhar. É o que tenho feito durante os três meses de barriga vazia, embora pleno de imaginação. Além de ter um coração pleno de otimismo, ainda, e bem fundamentado na resiliência. E nunca, nunca, fugi da lavoura para descansar à sombra. Do que trata este desabafo é falar de respeito aos trabalhadores das palavras e imagens. Apenas isto, um nosso direito.
PS: Ah! Não estou aqui para me vitimizar. Não preciso disto. Tenho corpo, voz e força nos braços para trabalhar. É o que tenho feito durante os três meses de barriga vazia, embora pleno de imaginação. Além de ter um coração pleno de otimismo, ainda, e bem fundamentado na resiliência. E nunca, nunca, fugi da lavoura para descansar à sombra. Do que trata este desabafo é falar de respeito aos trabalhadores das palavras e imagens. Apenas isto, um nosso direito.
Um comentário:
Dificuldades, vão passar, não sem luta. Gritar é preciso, nem que seja para aquecer os pulmões. Parabéns e boa sorte. Conte conosco, abraços...
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