sábado, 17 de outubro de 2009

O homem da cabeça de papelão

Bem, creio que a maioria dos leitores deste blogue sabe que, além de escrever, contar histórias e ilustrar, adoro teatro. Ano passado recebi convite bem bacana. Fazer a dramaturgia e dirigir o Grupo de Teatro Hora Vaga, de Garibaldi/RS. Aceitei. Primeiro, porque percebi um terreno fértil para burilar meu lado humano, meu lado artista. Segundo, porque o texto traz uma discussão urgente e necessária à sociedade contemporânea. E terceiro, não menos importante, a grana era boa.

O Hora Vaga é um grupo tri profissional. Atua há 11 anos na Serra Gaúcha, e já viajou até pro exterior. Hum, te mete! Eles são bons mesmo e levam muito a sério a popularização do teatro.

Seis meses de muito trabalho, muita risada, massa a bolognesa, rúcula e radicci, muita pesquisa, falta de recursos, noites sem dormir para, enfim, a estreia em abril de 2009. Praça lotada! Até o prefeito estava lá! Bem, com uma forcinha de gente do lugar, profissionais da Cidade para fazer cenários, preparação vocal, etc, o espetáculo ficou muito bom mesmo. E o resultado concreto desse trabalho profissa e apaixonado de todos nós - além de seduzir plateias dos arredores de Garibaldi e de Porto Alegre - chega agora, por celular, quando o Tadeu me liga pra avisar que o Hora Vaga, único grupo gaúcho selecionado para o XXXIII Festival Nacional de Teatro de Pindamonhangaba/SP, arrebatou nada mais nada menos do que nove troféus das doze categorias a que concorria no gênero Teatro de Rua. Uhuhuhuhuhuhuhu!

São elas:

Melhor Espetáculo - O homem da cabeça de papelão
Melhor Direção - Hermes Bernardi Jr.
Melhor Pesquisa - Grupo Hora Vaga
Melhor Ator Coadjuvante - Niel Medeiros
Melhor Atriz Coadjuvante - Odelta Simonetti
Melhor Cenário - Hermes Bernardi Jr. e Patricia Pasini
Melhor Figurino - Hermes Bernardi Jr.
Melhor Maquiagem - Odelta Simonetti
Prêmio Especial do Júri - Pela produção de arte e conjunto de adereços

O espetáculo parte de uma adaptação dramatúrgica que fiz junto ao grupo nos laboratórios de criação. O conto homônimo O homem da cabeça de papelão, escrito em 1920 pelo cronista João do Rio, vira espetáculo. Está tudo lá: a padronização da sociedade, políticos corruptos se safando, gente-lebre em pele de cordeiro comendo à nossa mesa de jantar, e mais um monte de ingredientes básicos de uma sociedade em nada parecida com a contemporânea. Será?

Levamos essa reflexão às ruas, através da sátira, do riso frouxo, e do distanciamento. Uma das falas de Antenor, nosso protagonista, nossa voz poética, deu a direção de nossa concepção: "Cabeças e relógios querem-se conforme o clima e a moral de cada terra."

A encenação: Antenor nasce e cresce na capital do País do Sol, onde dizer a verdade não é prática habitual. Nem político, nem mãe, nem ninguém. Antenor é diferente dos demais - insiste em falar sua verdade verdadeira sempre que algo lhe incomoda. E se dá mal. Rechaçado pelos companheiros de trabalho, pela família, incluindo sua mãe, que afirma ser sua má cabeça o motivo de tantos problemas, o jovem acaba se jogando ao deleite de uma paixão, Maria Antônia, a filha da lavadeira. Safadinha, a moça lhe exige trocar a cabeça para que aceite seu pedido de casamento. Na dúvida Antenor entra em uma relojoaria e é convencido pelo relojoeiro a deixar sua cabeça para avaliação. Em troca, o esperto comerciante vende-lhe uma cabeça fabricada em série, uma cabeça de papelão, última moda e a mais usada no País do Sol. Ah, mal Antenor sai à rua de cabeça nova, seu comportamento muda. Umas mentirinhas aqui, uma dose de corrupção acolá, traições mais adiante... e nosso protagonista vai ganhando a simpatia dos cidadãos solarianos, é eleito senador e logo sai em campanha para a presidência, aclamado pelo povo do País que, apesar de se chamar Sol, chove muito. Mas ao entrar na antiga relojoaria, Antenor encontra uma cabeça que não requereu reparo algum. A sua. Original. Perfeita! Voltará a usá-la?

Dionísio, Baco... Evoé, Hora Vaga!

3 comentários:

Eduardo Brasil disse...

Olá Hermes, li sobre seu trabalho com a dramaturgia do conto do João do Rio. Por coincidência estou montando este conto num curso de teatro que coordeno em Barão Geraldo-Campinas-SP. Fiquei com vontade de trocar algumas idéias sobre o conto, se você puder, meu e-mail é eduardobrasil7@yahoo.com.br.
Um abraço, Eduardo.

Eduardo Brasil disse...

Olá Hermes, li sobre seu trabalho com a dramaturgia do conto do João do Rio. Por coincidência estou montando este conto num curso de teatro que coordeno em Barão Geraldo-Campinas-SP. Fiquei com vontade de trocar algumas idéias sobre o conto, se você puder, meu e-mail é eduardobrasil7@yahoo.com.br.
Um abraço, Eduardo.

Eduardo Brasil disse...

Olá Hermes, li sobre seu trabalho com a dramaturgia do conto do João do Rio. Por coincidência estou montando este conto num curso de teatro que coordeno em Barão Geraldo-Campinas-SP. Fiquei com vontade de trocar algumas idéias sobre o conto, se você puder, meu e-mail é eduardobrasil7@yahoo.com.br.
Um abraço, Eduardo.