segunda-feira, 22 de junho de 2009

Leituras a bordo


Durante as inúmeras confusões (atraso, troca de aeronave após 40 minutos de espera quando os passageiros já estavam acomodados noutra, peso da aeronave acima do permitido, combustível insuficiente para o trajeto, Esporte Clube Internacional a bordo) no voo de retorno Rio-POA, via TAM, aproveitei e busquei a paz que a leitura me dá. Não vi o tempo passar.

Embora eu relate aqui os acontecimentos, nada disso me incomodou mergulhado dos pés à cabeça que estava no romance O Fazedor de Velhos, de Rodrigo Lacerda, que recebeu recentemente o Prêmio Glória Pondé, categoria Infanto-juvenil, da Fundação Biblioteca Nacional, vinculada ao Ministério da Cultura. A obra foi avaliada segundo critérios de qualidade literária, contribuição do autor à cultura e projeto gráfico (qualidade de acabamento, impressão e encadernação).

Chorei, ri, estranhei, me surpreendi, sufoquei, aplaudi, suspirei durante os 594.ooo segundos de viagem. Inclua-se aí os 105 minutos de voo mais os 40 minutos de espera mais os 20 minutos de troca de aeronave. E sequer me incomodei com as áreas de instabilidade do ar. Turbulências fazem a vida ficar mais instigante. Fazem a gente pensar que está vivo. Em O Fazedor de Velhos, Rodrigo Lacerda libera sua lente perceptiva para encontrar adolescentes nada padrão, adolescentes entusiasmados pela vida, pelo conhecimento, pela descoberta.

Trechos que iluminei, porque me senti iluminado, obviamente:

" - O seu disfarce ficou ótimo. O paletó, a calça, os óculos. Parece mesmo um jovem bem-sucedido, um advogado, ou coisa assim. Mas na minha opinião, o toque de mestre foi o livro. Foi o livro que te envelheceu."

"- Vocês vão descobrir, na carne, que sentir, nessa vida, é sentir o tempo indo embora."

"Se eu pudesse dar um conselho a vocês, eu diria: não queiram nunca ser eternamente jovens; gostar de viver é gostar de sentir, e gostar de sentir é, necessariamente, gostar de envelhecer."

"... falei que algumas coisas, algumas pessoas, nos põem em contato com o passar do tempo, e que tudo o que nos emociona, tudo o que nos toca, é o tempo chegando e indo embora?"

" A emoção, Pedro, é a única coisa que você deseja transmitir. A você não importa o conhecimento, a filosofia, a erudição, nada. (...) As histórias que você precisa contar não são feitas à base de procedimentos metodológicos. Elas dependem da sua identificação com os sentimentos alheios."

"Envelheci muitos anos em poucas horas. Fiquei feliz com isso. Os deuses nos matam por diversão, mas, afinal, também são eles que nos fazem nascer."

Um comentário:

Tino Freitas disse...

Querido Hermes, este livro É MESMO uma maravilha. Um encanto. Um deslumbre. Para quem gosta de livros. E para quem não gosta, arranjar um motivo de se apaixonar por eles. Parabéns pelos livros novos. Que possam apaixonar outros tantos leitores. Abraços saudosos e queridos, meus e da Ana Paula.